O modelo habitacional conhecido como coliving, em tradução livre “moradia compartilhada”, tem ganhado destaque no mercado imobiliário como uma alternativa inovadora e eficiente para atender às novas demandas urbanas e novos hábitos de convivência. 

Esse fato, naturalmente, não está passando despercebido pelas principais incorporadoras imobiliárias brasileiras, e já começam a surgir empreendimentos mistos, que combinam a residência tradicional com moradias compartilhadas, e também projetos exclusivamente voltados a esta última finalidade. 

Inspirado por práticas já consolidadas nos Estados Unidos, o coliving combina moradia, trabalho e lazer em um único espaço compartilhado, promovendo economia, sustentabilidade e interação social     

No Brasil, embora ainda recente, o conceito de moradia compartilhada está em ascensão, especialmente entre jovens profissionais, estudantes e nômades digitais que valorizam praticidade, custo-benefício e experiências coletivas 

Em São Paulo, por exemplo, a aceitação do modelo de coliving cresceu de 30% em 2019 para 55% em 2020, refletindo mudanças no comportamento e nas preferências de moradia. 

No artigo de hoje, exploraremos os aspectos urbanísticos e jurídicos desse novo modelo habitacional, analisando seu potencial como tendência do mercado imobiliário brasileiro. 

O que é coliving ou moradia compartilhada?

Em poucas palavras, o coliving é um modelo habitacional que combina moradia compartilhada com serviços integrados, focando em promover conexões pessoais e profissionais entre os residentes.  

Esses espaços geralmente oferecem unidades privativas, como quartos ou estúdios, e áreas comuns amplamente equipadas, como cozinhas, salas de convivência e coworkings 

Além de ser uma solução habitacional moderna, o coliving também responde a mudanças nas dinâmicas sociais e econômicas.  

A urbanização crescente, o aumento do custo de vida e o desejo por conexões humanas impulsionam a demanda por esse tipo de moradia compartilhada.  

A proposta vai além do simples “residir” em um imóvel, focando em criar verdadeiras comunidades integradas e colaborativas.  

Para ilustrar, apresentamos um exemplo que retrata, de forma minimalista, a planta arquitetônica de um espaço coliving. Vejamos:

coliving; moradia compartilhada

Esse modelo reflete as mudanças no mercado imobiliário, com projetos adaptados para atender uma nova geração que prioriza experiências compartilhadas, sustentabilidade, conveniência e qualidade de vida. 

Quais são as principais características de um coliving ou moradia compartilhada? 

Uma das principais características de um coliving é a oferta de unidades privativas, como quartos ou estúdios, combinadas com amplos espaços compartilhados 

Áreas comuns, como cozinhas, salas de estar, lavanderias e coworkings são projetadas para incentivar a interação entre os moradores, promovendo um senso de comunidade e colaboração. 

Outro diferencial é a gestão profissionalizada, que vai além da administração condominial tradicional.  

Empreendimentos de coliving oferecem serviços integrados, como limpeza, manutenção, recepção e até organização de eventos, proporcionando uma experiência de moradia prática e completa. 

A flexibilidade contratual também é uma característica marcante desse modelo. Contratos de curta duração e adaptáveis tornam o coliving ideal para jovens profissionais, estudantes e nômades digitais, que buscam praticidade e mobilidade, sem abrir mão da qualidade de vida. 

Além disso, o coliving atende à demanda por soluções econômicas em grandes centros urbanos, onde os custos de habitação são elevados.  

O compartilhamento de recursos e espaços permite reduzir despesas como aluguel e condomínio, tornando essa modalidade acessível para quem deseja morar em regiões centrais com infraestrutura completa e facilidades modernas. 

Coliving; moradia compartilhada

Como o coliving ou moradia compartilhada pode se tornar uma estratégia interessante de empreendimento imobiliário? 

Como dito, o coliving oferece uma proposta que se alinha às demandas contemporâneas, tornando-se um modelo atrativo para incorporadoras e investidores 

Com a crescente urbanização e o aumento dos custos de moradia, muitas pessoas buscam alternativas mais acessíveis e flexíveis.  

Nesse cenário, o coliving se destaca ao combinar praticidade e senso de comunidade, características cada vez mais valorizadas no mercado imobiliário. 

Do ponto de vista de negócio, o coliving, de forma similar à multipropriedade, proporciona maior rentabilidade por metro quadrado 

Ao otimizar espaços e priorizar áreas comuns em vez de grandes unidades privativas, o empreendimento conta com mais unidades à venda, acomodando mais moradores, além de oferecer serviços agregados, o que aumenta as vendas e receitas com taxas de manutenção e outros contratos relacionados. 

Além disso, ao focar na combinação de serviços e espaços compartilhados, garante alta ocupação e fidelização, tornando-se uma opção altamente rentável no mercado imobiliário. 

Um exemplo prático desse sucesso no Brasil é o Uliving, uma rede de coliving voltada principalmente para estudantes universitários e jovens profissionais.  

Com unidades em São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul, o empreendimento oferece unidades privativas compactas, aliadas a áreas comuns bem equipadas, como salas de estudo, cozinhas compartilhadas e espaços de convivência.  

Não se pode esquecer, por outro lado, da notória vantagem econômica que a moradia compartilhada pode proporcionar a investidores imobiliários 

Com o custo de aquisição de uma única unidade imobiliária em um empreendimento de coliving, o investidor pode locar o bem para várias pessoas diferentes, de forma simultânea, potencializando sobremaneira seus lucros. 

Coliving; moradia compartilhada

Entendendo o perfil do público-alvo de um coliving ou moradia compartilhada 

O público-alvo do coliving é composto, em sua maioria, por jovens profissionais, estudantes universitários e nômades digitais. Esses grupos têm em comum a busca por flexibilidade, custos reduzidos e a preferência por um estilo de vida que promova interações sociais e networking 

No mercado imobiliário, entender as necessidades e expectativas desse perfil é essencial para o sucesso do empreendimento. 

Jovens profissionais, especialmente aqueles em início de carreira, valorizam contratos de curta duração, que oferecem mobilidade sem o compromisso de locações tradicionais.  

Além disso, buscam comodidades como coworkings e espaços de convivência que facilitem tanto o trabalho quanto o lazer, transformando a moradia em um local multifuncional. 

Estudantes universitários também compõem uma parcela significativa desse público. Muitos deles saem de suas cidades natais para estudar em grandes centros urbanos e precisam de uma solução habitacional que combine praticidade, segurança e custo acessível. O coliving atende a essas demandas com serviços integrados e um ambiente comunitário que facilita a adaptação ao novo local. 

Outro público importante é o dos nômades digitais, profissionais que trabalham de forma remota e não estão vinculados a uma localização fixa. Esses indivíduos buscam flexibilidade e infraestrutura, como boa conectividade de internet e espaços compartilhados que promovam interações sociais e trocas culturais, características que o coliving oferece de forma eficiente. 

Portanto, compreender esses perfis ajuda incorporadoras e investidores a planejar empreendimentos que atendam a demandas específicas, desde a localização estratégica até a personalização dos serviços oferecidos, garantindo alta ocupação e um retorno sólido sobre o investimento. 

Coliving; moradia compartilhada

Coliving e as tendências de compartilhamento de espaço 

O coliving está alinhado às tendências globais de compartilhamento, popularizadas pela economia colaborativa.  

Assim como a plataforma Airbnb, esse modelo reflete a preferência crescente por acesso e uso a curto prazo em vez longos contratos de locação, especialmente entre as novas gerações.  

No mercado imobiliário, isso se traduz em empreendimentos que valorizam o uso eficiente de recursos e a convivência comunitária. 

Ademais, o compartilhamento de espaços, como cozinhas e salas de convivência, vai além da praticidade, promovendo interação social e sustentabilidade. Além de reduzir custos, essa abordagem permite oferecer moradias em localizações urbanas estratégicas, acessíveis a pessoas que, de outra forma, não poderiam arcar com os custos de uma habitação tradicional em grandes centros. 

Além da economia, o coliving responde ao desejo de conexão em uma sociedade cada vez mais digital, mas frequentemente isolada.  

Compartilhar espaços cria oportunidades de colaboração, networking e um senso de comunidade, características que tornam esse modelo não apenas uma solução habitacional, mas uma tendência forte no mercado imobiliário contemporâneo. 

Coliving; moradia compartilhada

Coliving ou moradia compartilhada em um contexto de sustentabilidade como tendência do mercado imobiliário 

O coliving também se destaca como alternativa habitacional que integra sustentabilidade e inovação, acompanhando as tendências globais do mercado imobiliário.  

Ao priorizar o uso compartilhado de espaços e recursos, esse modelo reduz o impacto ambiental dos empreendimentos, atendendo à demanda por soluções mais conscientes e alinhadas aos objetivos de desenvolvimento sustentável. 

Um dos seus principais aspectos sustentáveis é a otimização dos espaços. Ao projetar áreas comuns para uso coletivo, como cozinhas, lavanderias e coworkings, é possível reduzir a necessidade de grandes unidades privativas, diminuindo o consumo de materiais de construção e energia elétrica.  

Além disso, os empreendimentos desse tipo podem adotar tecnologias ecológicas, como sistemas de energia solar, reaproveitamento de água e iluminação eficiente, agregando valor ao projeto. 

Do ponto de vista do consumidor, a sustentabilidade também é um atrativo. Cada vez mais, moradores buscam viver em imóveis que minimizem o impacto ambiental e ofereçam uma experiência de moradia alinhada a princípios ecológicos.  

Para incorporadoras e investidores da área, isso representa não apenas um diferencial competitivo, mas também uma forma de atender a regulamentações ambientais e atrair incentivos fiscais ou financiamento público para projetos sustentáveis. 

Assim, o coliving não é apenas uma resposta às demandas habitacionais modernas, mas também um exemplo de como o setor imobiliário pode se adaptar às crescentes preocupações ambientais.  

Coliving; moradia compartilhada

Questões jurídicas que devem ser observadas em um empreendimento de coliving ou moradia compartilhada 

A criação e gestão de empreendimentos de coliving exige que incorporadoras e investidores considerem uma ampla gama de normativas, desde o planejamento e concepção do projeto até sua operação diária.  

E muito embora a legislação brasileira ainda não possua uma norma específica sobre o coliving, a sua instrumentalização jurídica geralmente ocorre por meio de contrato de locação padrão, regido pela Lei de Locações (Lei Federal 8.245/91), com a inclusão de cláusulas que alinhem os direitos e deveres dos moradores às normas do condomínio e aos regulamentos internos do empreendimento. 

Além disso, para que o empreendimento esteja em conformidade com as regras de zoneamento, ocupação do solo e licenciamento ambiental, especialmente devido ao uso compartilhado de espaços, é necessário se adequar às respectivas leis municipais. 

Mas afinal, quais são as principais questões jurídicas a serem observadas em um empreendimento de coliving? Para responder a essa pergunta, abordaremos os principais aspectos legais e contratuais envolvidos nesse modelo habitacional inovador. 

Coliving; moradia compartilhada

Regulamentação municipal que pode afetar a criação de um coliving 

A regulamentação municipal é fundamental para o planejamento e execução de empreendimentos de coliving, considerando normas de zoneamento, coeficiente de aproveitamento e destinação de uso, que variam de cidade para cidade e podem impactar diretamente na viabilidade e aprovação do projeto. 

Em Belo Horizonte, por exemplo, o Plano Diretor (Lei 11.181/2019) prioriza a multifuncionalidade em áreas centrais, mas impõe restrições em zonas residenciais mais tradicionais. 

Além disso, licenças e alvarás são fundamentais em empreendimentos de coliving porque garantem a conformidade com as normas urbanísticas e de segurança estabelecidas pelos municípios.  

Dependendo das atividades que o empreendimento oferecer, como serviços adicionais ou eventos em áreas comuns, pode ser necessário obter alvarás específicos para essas finalidades 

Portanto, para garantir a conformidade do projeto, é indispensável uma análise detalhada da legislação local e, claro, o apoio jurídico especializado 

Se você deseja aprofundar seus conhecimentos sobre o Plano Diretor de BH, confira nosso artigo sobre o tema e esteja preparado para adaptar-se às exigências do mercado imobiliário local. 

Coliving; moradia compartilhada

Direitos e deveres condominiais em um ambiente de coliving 

No caso de imóveis em condomínio destinados ao coliving, a alta rotatividade, característica desse modelo, pode enquadrá-los como de uso comercial, e não exclusivamente residencial.  

Essa mudança de destinação pode gerar desafios para os condôminos, como superlotação das unidades, uso intensivo das áreas comuns e maior complexidade no controle de acesso, exigindo uma gestão mais eficiente e regrada para preservar a harmonia e o equilíbrio no ambiente condominial.  

Por exemplo, se um morador da unidade destinada ao coliving decidir organizar festas frequentes no salão de festas sem respeitar a capacidade máxima ou o agendamento prévio, por óbvio, os demais condôminos serão prejudicados, haja vista eventuais conflitos e sobrecarga na estrutura do condomínio. 

Daí porque uma boa e bem ajustada convenção de condomínio é absolutamente essencial para a implantação desse tipo de empreendimento.  

É um cuidado que não pode ser negligenciado pelas incorporadoras pois, uma vez entregue o prédio, dificilmente o texto da convenção minutada no processo de incorporação imobiliária será alterado, dado o quórum legal (2/3). 

Aliás, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) firmou recentemente o entendimento no sentido de que o uso atípico e compartilhado do imóvel deve ser aprovado em assembleia condominial e refletido na convenção do condomínio para evitar conflitos e questionamentos jurídicos. 

O julgado do STJ em questão (Resp. n. 1.819.075/RS) reforça que, embora a legislação brasileira ainda careça de regulamentação específica para modelos como o coliving, a destinação de uso pode ser ajustada, desde que aprovada pela maioria qualificada dos condôminos, garantindo maior segurança jurídica e viabilidade ao empreendimento. 

Por essa razão, é indispensável a assessoria jurídica especializada em incorporações imobiliárias desde a fase de concepção do projeto, para que a análise de riscos seja feita já no planejamento inicial, considerando a destinação mista do imóvel – tanto comercial quanto residencial –, alinhada às normas condominiais e à legislação vigente.  

Coliving; moradia compartilhada

Contratos de locação referentes a imóveis de coliving 

Os contratos de locação para coliving, embora baseados na Lei do Inquilinato, demandam uma abordagem específica para refletir as peculiaridades desse modelo habitacional compartilhado.  

A natureza inovadora do coliving exige que os instrumentos contratuais sejam detalhados e adaptados para garantir a convivência harmoniosa, a segurança jurídica e a viabilidade operacional do empreendimento. 

Um ponto fundamental é a inclusão de cláusulas que alinhem os direitos e deveres dos moradores às normas do condomínio e aos regulamentos internos do coliving. Essas disposições devem abranger: 

 

  • O uso das áreas comuns (cozinhas, coworkings, salas de convivência etc.); 
  • A ocupação máxima por unidade, respeitando limites legais e estruturais; 
  • A responsabilidade por danos causados tanto em áreas privativas quanto compartilhadas; e 
  • Penalidades claras para o descumprimento de obrigações contratuais, como multas por desrespeito às regras de convivência. 

 

Outro aspecto relevante é a possibilidade de sublocação, que pode ser viabilizada mediante inclusão ou ajuste de cláusula específica no contrato original, respeitando o uso residencial do imóvel e conforme o art. 13 da Lei do Inquilinato. 

Além disso, o contrato deve prever mecanismos de rateio proporcional das despesas condominiais, alinhando-as ao uso efetivo dos espaços, e detalhar regras para segurança e controle de acessos, essenciais em imóveis compartilhados. 

Dada a complexidade e a importância de equilibrar as demandas do mercado com a proteção dos interesses das partes, a confecção de contratos de coliving deve contar com o suporte de profissionais especializados, garantindo conformidade legal e segurança jurídica. 

Coliving; moradia compartilhada

Conclusão 

Com o artigo de hoje, compreendemos o potencial do coliving como uma tendência cada vez mais consolidada no mercado imobiliário 

Esse modelo habitacional oferece uma resposta às novas demandas urbanas, promovendo praticidade, economia e sustentabilidade, ao mesmo tempo em que valoriza o senso de comunidade. 

No entanto, seu sucesso depende de uma abordagem cuidadosa e estratégica, que vai desde a análise de viabilidade jurídica e cumprimento das regulamentações municipais até a elaboração de contratos adaptados e a gestão eficiente dos espaços compartilhados.  

Incorporadoras, investidores e administradores devem estar atentos aos direitos e deveres condominiais, garantindo harmonia entre os moradores e respeitando as normas internas do condomínio. 

O coliving é mais do que uma simples tendência: é uma oportunidade para transformar a maneira como vivemos e nos relacionamos nas cidades. Com planejamento adequado e assessoria jurídica especializada, este modelo pode se tornar um dos pilares do mercado imobiliário do futuro. 

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