No estudo de viabilidade de qualquer novo empreendimento imobiliário, seja ele uma incorporação ou um loteamento, um dos principais fatores a ser analisado é o potencial VGV.
É com base nele que o empreendedor conseguirá calcular, em comparação com o custo total projetado de todas as fases do negócio, qual será a lucratividade esperada ao final, bem como o payback, ou seja, o tempo estimado de recuperação do investimento feito.
Hoje falaremos um pouco mais sobre esse importante indicador, abordando seu conceito, como ele é calculado, sua importância na fase de prospecção do empreendimento, sua relação com o BDI e os fatores que podem impactá-lo positiva ou negativamente.
Índice
- 1 O que é VGV?
- 2 Como é calculado o VGV?
- 3 Importância do VGV – projeção da viabilidade financeira e da rentabilidade
- 4 VGV nos empreendimentos imobiliários
- 5 Relação entre o cálculo de BDI e o VGV
- 6 Fatores que podem aumentar/diminuir o VGV
- 7 VGV como referência de valores nos contratos imobiliários
- 8 Conclusão
O que é VGV?
A sigla VGV significa Valor Geral de Vendas. Trata-se de um indicador de faturamento e de viabilidade de um empreendimento.
O VGV é, na prática, a receita bruta de um empreendimento imobiliário, representada pelo preço médio das unidades a serem vendidas, multiplicado pela quantidade total delas, ou pela soma do preço de venda de todas as unidades autônomas vendidas. Porém, antes mesmo do início de qualquer projeto, estima-se o VGV, a fim de se verificar a (in)viabilidade econômica do negócio.
Apesar de às vezes ser tratado como ‘a conta simples’ ou a ‘conta de padaria’ da incorporação, o VGV é de suma importância para um projeto imobiliário.
Através da projeção de rendimentos determinada pelo VGV é possível estabelecer onde serão alocados os rendimentos, o que é fundamental para definição do orçamento e viabilidade de uma obra.
Além disso, o Sindicato de Empresas de Compra e Venda de Imóveis de São Paulo (SECOVI) utiliza o VGV para avaliar o desempenho do setor Imobiliário.
Como é calculado o VGV?
Uma advertência importante: o Valor Geral de Venda utilizado em contratações e análises de viabilidade econômica de empreendimentos imobiliários é uma estimativa.
O VGV real será obtido somente com a efetiva venda das unidades individuais. Apesar de, idealmente, ser condizente com o VGV projetado, não será necessariamente equivalente a este último.
Como dito, o VGV é calculado pelo número unidades multiplicado pelo valor médio de venda de cada unidade.
Se uma incorporadora, por exemplo, pretende lançar um empreendimento com 60 unidades, e cada uma delas for precificada em R$300.000,00 (média), o VGV deste empreendimento será de R$ 18.000.000,00.
Por se tratar de uma estimativa do potencial de arrecadação do empreendimento, existem outros fatores econômicos externos que podem afetar a receita total, como margem de negociação, alteração nos preços dos imóveis e outros elementos que trataremos com mais profundidade adiante.
O cálculo é relevante para indicar a viabilidade porque, comparando-se o VGV com o custo estimado da obra, será possível aferir, com alguma precisão, se aquele potencial empreendimento é atraente do ponto de vista econômico. Mas atenção, este custo não se resume apenas aos materiais, mão de obra e equipamentos em si, mas inclui também as despesas administrativas – ou de “escritório” –, despesas com projetos e estudos preliminares, comercialização, tributos e encargos setoriais, emolumentos de cartório, dentre outros.
Importância do VGV – projeção da viabilidade financeira e da rentabilidade
O VGV é um importante instrumento na elaboração e planejamento da obra. A análise do VGV ajuda a projetar a viabilidade financeira e a rentabilidade do empreendimento.
O estudo de viabilidade econômica permite visualizar, por meio da análise das informações, o real potencial de retorno (payback) do investimento naquele empreendimento.
Isso porque ao conhecer o Valor Geral de Vendas do projeto é possível definir onde e em que proporção poderão ser alocadas as receitas com a maior eficiência possível.
Na fase de obra, por exemplo, o VGV pode determinar a qualidade e a quantidade dos materiais empregados na construção, ou ainda, auxiliar na otimização da empregabilidade dos recursos.
Nos empreendimentos imobiliários o VGV tem um papel primordial no desenvolvimento inicial de um projeto.
VGV nos empreendimentos imobiliários
O cálculo do VGV nos projetos imobiliários possibilita a estimativa dos resultados de um empreendimento ainda nas fases iniciais de concepção e lançamento.
Em um empreendimento imobiliário podemos dividir a distribuição de custos, basicamente, em três etapas: 1) negociação e aquisição do terreno; 2) despesas da incorporação imobiliária; e 3) despesas com pós-venda.
Para que, ao final, o projeto seja lucrativo, o VGV deve cobrir os diversos custos do empreendimento. A título de exemplo, podemos trazer uma alocação fictícia do VGV em uma incorporação:
Item | %VGV | Valores |
Terreno | 13% | R$ 1.300.000,00 |
Obra | 43% | R$ 4.300.000,00 |
Manutenção | 1% | R$ 100.000,00 |
Taxa de Administração | 5% | R$ 500.000,00 |
Marketing | 2% | R$ 200.000,00 |
Comissões | 3% | R$ 300.000,00 |
Juros de Financiamento | 8% | R$ 800.000,00 |
Administração Central | 1% | R$ 100.000,00 |
Impostos | 4% | R$ 400.000,00 |
Lucro | 20% | R$ 2.000.000,00 |
VGV TOTAL: | R$ 10.000.000,00 |
Perceba que, se a previsão contida na tabela acima se confirmar ao final do empreendimento, o incorporador terá obtido um interessante lucro de vinte por cento.
Algumas das despesas e o próprio VGV variarão, é certo, mas com um bom estudo prévio de viabilidade, as chances de que o resultado seja favorável e próximo do projetado são grandes.
Relação entre o cálculo de BDI e o VGV
O VGV tem relação com outros indicadores de mercado e um deles é o BDI (Budget Difference Income), termo que, no Brasil, foi adaptado como “Benefícios e Despesas Indiretas”.
O BDI é um elemento orçamentário que ajuda a compor o preço de venda adequado das unidades de um empreendimento, levando em conta os custos indiretos.
O cálculo do BDI interfere diretamente no VGV.
Isso porque a avaliação dos custos indiretos pode demandar o aumento ou diminuição do preço médio de venda das unidades, alterando, logo, o VGV.
O BDI representa um elemento adicional às despesas ordinárias e incorpora uma série de despesas indiretas que podem ser atribuídas e alocadas a um empreendimento. São elas:
- Recursos administrativos, que incluem recursos humanos, serviços de telecomunicações, locações diversas, dentre outros;
- Custos financeiros, que são uma estimativa do rendimento do capital empregado no investimento, caso estivesse aplicado no mercado financeiro;
- Seguros e Garantias;
- Margem de segurança, que compreendem imprevistos que podem não estar acobertados pelos seguros;
- Tributos – Municipais, Estaduais e Federais;
- Lucratividade prevista para o projeto – que pode variar em face do VGV.
O cálculo prévio do BDI pode ser utilizado para estimar o valor de oferta das unidades porque, embora ele faça frente aos custos indiretos do projeto, não pode ser desconsiderado na apuração da viabilidade econômica do projeto.
Fatores que podem aumentar/diminuir o VGV
O BDI, como visto, acaba tendo uma influência indireta no preço estimado de venda das unidades e, portanto, pode impactar o VGV estimado inicialmente para o projeto.
Se, por exemplo, a obra se der pelo regime de administração, com a contratação de uma construtora terceirizada, esta fatalmente calculará e cobrará o BDI sobre o custo total do projeto, independentemente do tempo de duração ou da complexidade da obra.
Porém, os fatores que, de fato, podem diminuir ou aumentar o VGV nada mais são do que aqueles fatores que afetam os preços das unidades imobiliárias em si.
Para se verificar, portanto, na prática, o que implicará em alterações no VGV, deve-se analisar o que pode valorizar ou desvalorizar as unidades imobiliárias autônomas, como acabamento, benfeitorias, estruturas, desenvolvimento urbano da região, dentre outros.
Pode-se mencionar a inclusão de itens de comodidade como por exemplo piscina, playground infantil, academia, salão de festas, quadras esportivas.
São fatores que podem aumentar o VGV se, com tais incrementos, puder se cobrar mais para a venda de cada unidade.
Este tipo de acréscimo são os mais convenientes visto que não representam, necessariamente, acréscimos no tempo de entrega da obra.
É válido ressaltar que mudanças que valorizem os imóveis e permitam com que o empreendedor cobre mais caro para a venda das unidades individuais, podem também aumentar o custo do empreendimento.
Portanto, o aumento do VGV não necessariamente implica em maior lucratividade.
VGV como referência de valores nos contratos imobiliários
Uma importante implicação jurídica do VGV é que ele pode ser utilizado como valor de referência e base para remuneração em contratos imobiliários, principalmente em contratos de compra e venda de imóveis com preço variável e de permuta financeira celebrados entre incorporadoras/loteadoras e proprietários de terrenos, de maneira geral, para a execução de empreendimentos.
Isto é, quando do oferecimento de um terreno à execução de um empreendimento, por exemplo, um proprietário pode ser remunerado, ao final, com percentual do VGV obtido com a venda das unidades, ao invés de ser remunerado com a propriedade de determinadas unidades, propriamente dita. Essa operação é a chamada permuta financeira.
Além disso, com a estipulação inicial de um VGV, ao se apurar a viabilidade econômica de um projeto, tem-se um valor de referência do negócio.
Afinal, negociações imobiliárias voltadas ao desenvolvimento de incorporações e empreendimentos em geral certamente não têm o simples valor do terreno nu, mas compreendem, também, as unidades futuras que serão construídas e o montante arrecadado com a venda dessas unidades.
O VGV pode ser, portanto, utilizado como valor base para a previsão de multas contratuais, no caso de infrações cometidas pelas partes negociantes, durante a condução do projeto, bem como pode ser base para o preço da transferência do contrato a terceiros.
Por exemplo, se uma incorporadora inicia um projeto, mas não consegue concluí-lo e decide alienar o empreendimento a outra incorporadora, ou mesmo no caso de uma empresa terceira se interessar por comprar o projeto antes da sua conclusão, o VGV será uma importante referência para a precificação dessa transferência.
No caso, a utilização do VGV como forma de remuneração de proprietários de terrenos, ao invés da permuta física, ou da receita de unidades específicas, apresenta vantagens e desvantagens em relação a estas últimas opções.
Igualmente, a adoção dessa modalidade pode ser mais ou menos adequada para se atingir a pretensão das partes negociantes no caso concreto.
Por exemplo, se a intenção daqueles proprietários que negociam com a loteadora/incorporadora que conduzirá o projeto for a percepção de lucros, de modo que o papel deles seja mais parecido com o de um investidor, a adoção de percentual do VGV como remuneração pode ser interessante, embora envolva um risco maior, por tornar o preço incerto e variável.
Nesse caso, há de se ressaltar que a opção pode ser até mesmo interessante para empresa que guiará o projeto, porque tais proprietários participarão mais diretamente dos riscos do negócio.
Afinal, sua remuneração estará condicionada à receita bruta efetiva trazida por todo o empreendimento e não a unidades específicas.
Se, eventualmente, o empreendimento se valorizar ou se desvalorizar com o tempo, e as unidades forem vendidas mais ou menos caras do que o inicialmente esperado, esses proprietários terão sua remuneração afetada, proporcionalmente ao valor médio da venda dos imóveis individuais.
Em uma hipótese diferente, em que os proprietários que negociam com a empresa queiram obter a propriedade de certas unidades autônomas do empreendimento, não faria sentido, todavia, que eles participassem das vendas, recebendo percentual do VGV.
Seria mais interessante, nesse caso, que a incorporadora/loteadora determinasse, em conjunto com os proprietários, quais seriam as unidades destes, com a contrapartida da assunção, desde logo, das dívidas originadas por tais unidades, pelos proprietários.
As vantagens à empresa proprietária do empreendimento, nesse último caso, seriam algumas, a exemplo da obrigação, aos proprietários das unidades escolhidas, de pagar IPTU, taxas condominiais e outras despesas relacionadas à propriedade, tão logo sejam encerradas as obras.
A análise jurídica e os cuidados na elaboração das minutas contratuais são, pois, importantes para que não haja surpresas negativas e as regras da negociação reflitam os interesses das partes envolvidas e, de fato, permitam um melhor aproveitamento econômico.
Conclusão
O VGV é uma ferramenta que, no mercado imobiliário, permite o cálculo estimado de custos de um empreendimento e consequentemente permite projetar margens de lucro e limites de perdas.
Além disso, é um valor importante que pode ser utilizado como referência financeira em contratos imobiliários, para fins diversos, desde a precificação de um negócio, até a remuneração de partes envolvidas.
O cálculo do valor geral de venda demanda uma análise detalhada de todas as etapas do empreendimento, desde a prospecção até a entrega.
Por se tratar de uma estimativa, existem variáveis que incidem no VGV como o BDI que também devem ser analisadas para evitar imprevistos e diminuição de ganhos futuros.
Projetar adequadamente o VGV de um empreendimento sem dúvidas garante às incorporadoras um melhor desempenho de mercado.
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*Imagens de Anna Nekrashevich e This is engineering, no Pexels.
Excelente informação. Parabéns pela didática.
Olá, Josias! Agradecemos o comentário e o feedback positivo.
Artigo esclarecedor, bem direto e abordando as várias possibilidades no cálculo e aplicação do VGV
Olá, Paulo! Agradecemos o comentário e o feedback positivo.